Ah!
Como era lindo de se ver! O meu povo todo reunido em volta da fogueira, ali no
centro da tribo! O velho pajé na frente da fogueira, iniciando mais um ritual,
mais uma saudação para agradecer ao nosso Deus, a Tupã, por nossa fartura
na caça, na pesca e na nossa pequena lavoura, pequena mais variada.
Logo
que o sol nascia, a vida na aldeia se iniciava, aos poucos um a um ia se
levantando, cada qual já sabia de sua obrigação.
Muitas
obrigações eram para benefício da tribo toda, na verdade, a maioria, todos
cooperavam.
Quando
os guerreiros saíam para caçar, a caça não era de quem caçou, toda caça do dia era
dividida entre as famílias da tribo. Amparávamos uns aos outros. Tínhamos
nossas leis, tínhamos poucos membros da Tribo que não agiam de forma para o bem
comum, mas estes o Cacique com o Pajé saberiam decidir o que fazer.
Mas
no geral a vida era calma,tranquila mesmo, éramos unidos e com as outras tribos
que tínhamos trato selado de paz também nos uníamos nas horas difíceis, fosse
dificuldades nossas ou delas, sabíamos o significado da palavra honra.
Um
dia, não sabíamos, mas iríamos conhecer a deslealdade, a maldade gratuita, a
vileza, gente que não tinha honra, gente que não valorizava a vida, que traria
o fim de nossa paz.
Vieram não de jangadas, vieram com barcos imensos, não pelos rios, mas pelo oceano, traziam a falsidade, a tudo olhavam procurando uma forma de ganho para si, viam-nos como selvagens, como qualquer animal selvagem das florestas.
Com
sorrisos e presentes tão simplórios, que para nós eram tesouros, pois não
conhecíamos, ganharam a nossa confiança. Assistiram nossos rituais, olharam com
cobiça as mulheres, aos poucos foram tomando conta. Nós em nossa simplicidade
até achávamos que Tupã os havia mandado para nos ensinar. Triste ilusão.
Tomaram
conta da terra, nos obrigaram a abandonar Tupã, ameaçando-nos de arder no fogo
do inferno, mataram muito dos nossos, nos aprisionaram, tentaram nos
escravizar, mas nós nos recusamos a obedecer, nos bateram, nos feriram,
estupraram as mulheres, roubavam as crianças.
Trocaram-nos
pelos pobres negros, que longe de suas terras não tinham como reagir.
Havia
bons padres, nem todos eram bons, mas havia um ou outro que nos defendia, a
estes recebíamos com carinho, mas pouco conseguiam fazer, aqueles que a tribo
foi dizimada, levavam para as missões, eram bem tratados, só que cultuavam Tupã
às escondidas, passaram a ter duas fé, não queriam ofender, era uma forma de
agradecer.
Nós
é que éramos selvagens? Nós que iríamos arder no inferno? Nós considerados até
hoje os invasores da terra em que nossos ancestrais viviam. Nem a menos
nos deixam em paz na terra que eles resolveram der a bondade de ceder a
nós.
Enfraquecemos,
não o corpo, o espírito, a confiança em Tupã quase desapareceu, as doenças dos
homens brancos também nos matava, hoje o que somos?
Olho
meu povo,tão humilhado, hoje imploram um espaço para sobreviver, imploram
ajuda, alguns caem nas malhas dos vícios humanos, antes viviam das benção
divinas, são taxados de preguiçosos, mas apenas perderam o sentido da luta da
vida.
Ah
se soubessem! Teriam lutado até o último indígena estar morto, pelo menos iriam
viver com Tupã e lá com certeza uma terra Tupã lhes daria.
Apenas
reflexões de um pele vermelha.
Luconi
19-04-2020
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