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sábado, 28 de julho de 2018

SOU JUREMA UMA ENTRE TANTAS





Sou Jurema, uma entre tantas que trabalham nesta linha, onde somos regidas pela mata, pela cachoeira, pelo rio, pelos córrego, pela terra, mas antes de tudo pela fé cristalina.

Sim sou Jurema, Jurema preta, não porque minha pele é negra, mas porque trabalhamos mais especificamente com a jurema preta. Como a Jurema branca trabalha com toda gama de espécies que pertence a jurema branca.
Eu cresci na amada África, quando os brancos aprisionaram a minha tribo, eu não estava lá, preparava-me para ser sacerdotisa e estava há dias dentro da mata.

Quando voltei, deu tempo de ver os meus irmãos entrando no navio que estava no mar.
Senti vontade de ir ao encontro deles, mas uma luz me paralisou e uma voz me disse:
─ Não é seu caminho, vive nas matas, tenha um solo fértil para absorver os ensinamentos, banhe-se nas cachoeiras, beba a água do rio e do córrego mesmo que barrenta, mas principalmente se consagre a fé do Deus Maior e O louve sempre em uma campina,pedindo que lhe envie a fé cristalina.
Eu respondi: ─ Mas e meus irmãos, quero ajudá-los.
E a voz respondeu: No tempo que você tiver preparada voltarás ao teu ninho de origem e de lá você se integrará àquelas que auxiliam seus irmãos e muitos outros nas terras longínquas onde não falta solo fértil nem matas, nem cachoeiras, nem rios ou córregos, mas devido ao sofrimento a fé cristalina está nublada, enfraquecida.

Entendi e por vinte e um anos vivi só naquelas matas, absorvendo tudo que me era ensinado através da natureza, um dia dormindo alcei voo, percebi que era livre,  voltei ao meu ninho de origem. Já estava preparada, em poucos meses  integrava a linha da Jurema  e minha falange e outras desta linha foram direcionadas para esta  terra bendita.

Sou Jurema, sou negra, pertenço a tribo africana, pertenço antes de tudo a Zambi e a Oxalá,mas minha essência é as matas, cruzando com Oxalá, com Oba, com Nanã, com Oxum e  com Oxum-Mare.

Sou Jurema e nada mais, um espírito em evolução.’ Uma das muitas Juremas pretas que ainda recolhe seus irmãos, filhos da querida mãe África.

Ditado por Jurema
Psicografado por Luconi
Em 28-07-18

segunda-feira, 23 de julho de 2018

CARTA DE MEU IRMÃO, LÁ DA ARUANDA.

Havia uma luz branca no meu rosto e eu sentia muito frio naquela sala de cirurgia. Não sei se devido a anestesia ou pelo cansaço, mas não consegui por mais que tentasse manter os olhos abertos e adormeci.
Um sono profundo sem sonhos, sem vozes, apenas um silêncio e uma escuridão, não sei por quanto tempo dormi, mas fui acordando devagar.
Primeiro senti o corpo aquecido e depois comecei a ouvir sons e vozes bem distantes. Nesse meio despertar, sonhei, vi minha família e esposa, talvez outras pessoas que eu amo, mas não me lembro exatamente.

Até que ouvi mamãe me chamar, que saudades de ouvir sua voz e foi tão real. Depois ouvi papai dizer: - Deixa ele ainda precisa dormir. Em seguida, senti um carinho na cabeça, eu sei que eram as mãos dele, eu senti que era ele e aquele sonho pareceu tão bom que eu não quis acordar.
Eu não queria ficar longe daquela sensação de amor e acho que dormi novamente. Tive um sono profundo e depois ouvi novamente vozes e cantos ou rezas, eu não conseguia definir, quando abri os olhos com a visão turva  eu vi uma luz de velas e um cheiro de ervas e flores.
Não conseguia mexer a cabeça, mas eu não sei se tentei, com os olhos abertos vendo apenas a meia luz da vela e um teto que eu não conseguia entender. Surgiu na frente dos meus olhos um velho negro  e sorriu: - Já acordou menino?
Meu Deus, era ele! Meu guia, meu pai, meu companheiro com quem muitas vezes me revoltei, mas que nunca me deixou sozinho.
Eu não entendi muito bem, embora antes de entrar na sala de cirurgia eu já sabia que era o fim da vida na Terra. Eu não imaginei que seria assim, acordar me sentindo vivo.
E eu ri, eu ri porque ele estava ali e agora que eu era morto ele parecia tão vivo.
Lembrei que se morri as meninas estavam sozinhas, minha esposa, minhas filhas, os netos que não pude conhecer melhor, minhas irmãs e fiquei desesperado, eu precisava voltar não podia ser agora!
E ele passou a mão em meu rosto e sem forças adormeci.
Agora um sono diferente, muitos sonhos, muitas conversas.
Muitos entendimentos que não consigo lembrar, mas que entraram na minha alma.
Novamente abri os olhos e ele estava lá de novo sorrindo: - Seu pai já chega. Por enquanto só esse velho.
Então consegui olhar ao redor, parecia um terreiro, eu estava numa esteira e tinha um altar de luzes coloridas, nem imagens, nem velas, só as chamas coloridas e muitas senhoras negras cantando e macerando ervas e as ervas brilhavam e cheiravam bem.
Meu velho me deu a mão e  disse: - Não era seu sonho conhecer Aruanda?
Eu não sei dizer o que eu disse, eu nem sei se eu falava ou pensava, mas ele respondia.
Com dificuldade me levantei, o corpo parecia leve e mais desajeitado do que eu já era.
Eu pensei: Morri e vou viver num terreiro e ele riu e disse:- Tem casa melhor.
Nós saímos daquela tenda e quando a porta abriu eu vi o sol mais lindo que eu jamais sonhei, o brilho do sol preencheu meu corpo, eu senti a luz do sol! E não conseguia enxergar muito bem de tanta luz, quando a vista foi melhorando eu vi um jardim cheio de flores, frutas e árvores e tudo brilhava como se fosse possível ver a vida que se move no vegetal, no mineral e até na luz.
É isso eu via a vida se movendo, hora brilhando rosa, hora brilhando com brilhos azuis, tudo emite  uma vibração colorida e bem suave que deixa todo o lugar excepcionalmente lindo como nada que eu já tenha visto ou sonhado.
As crianças corriam e soltavam bolas coloridas como bolas de sabão e havia pequenas mulheres voadoras fazendo um baile no ar para brincar com eles. Pensei que estava doidão vendo várias sininhos.
O velho riu e disse: - Elementais , às vezes eles vem ver as criancinhas.
O céu é azul,e tem sempre um arco íris , parece que a luz do sol vibra e entra na gente e faz o coração ficar cheio de paz.
As árvores têm um brilho e a vibração de suas vidas é visível e colorida, assim como as flores, a grama e até as pedras.
Tem uma cachoeira que eu não sei de onde caí, mas enche o lugar com um cheiro de água fresca e emite um brilho e na beira do córrego tem as sininhos do ar, mas tem sininhos na água e quando chove, o que acontece quase todos os dias, todos correm pra sentir as gotas de água que caem lavando nosso coração e enchendo nossa alma.
As frutas têm mais cor e as flores mais perfume parecem sorrir.
Gente tem de todo jeito negro, japonês, branco, velho e novo. As crianças são diferentes elas brilham e não têm pai ou mãe.
Às vezes reconheço um baiano ou um boiadeiro, mas alguns são bem diferentes do que eu via na Terra.
E por todo lado, as sete linhas vibram, elas estão vivas! As sete linhas são visíveis na Aruanda.
Não sou bom para escrever, mas eu prometi então vim contar.

Antonio Luconi - Toni
psicografado por Eveline Luconi Popi

em 22-07-2018