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terça-feira, 15 de maio de 2012

A LIBERDADE SEGUNDO PAI TOMÉ




A liberdade, na terra, é pura ilusão do homem sonhador. Por mais que pensem ser livres, livres não são não. Eles não imaginam, mas as correntes tantas são.

Realmente nesta terra, ninguém é livre não. Por mais que se debatam, sempre haverá corrente que os prenderá.

Eu vivi na condição de escravo, pensava comigo então, que o branco era feliz, ia e vinha , fazia o que queria, escolhia sua vida.
Mas era doce ilusão, o branco não era feliz não, as correntes que os prendiam, eram mais fortes que a minha.

Eram presos pelas correntes da sociedade em que viviam, onde agir tinham conforme às suas leis, às suas regras, muitas vezes contra os próprios princípios, contra a própria consciência. Caso contrário,  eram perseguidos de forma velada, escusa, suas famílias sofreriam as consequências.

E as mulheres brancas? Trancafiadas na casa grande, sem querer, sem nada poder, bonequinhas de porcelanas, colocadas em uma vitrine apenas para servirem de enfeite ao marido, quando se dignavam a retirá-las de sua prisão e desfilavam com elas de braços dados, imponente com um meio sorriso no rosto, como se fossem um troféu. Nem podiam amar por livre escolha, tudo era acertado conforme os interesses da sociedade, conforme os interesses financeiros e de posição social do pai ou tutor.

Ah! Eu era escravo, mas amava a quem queria, minha companheira deitou-se comigo não porque havia sido forçada a me amar, mas porque o amor entre nós surgiu lá na plantação de algodão.
O tempo que vivemos juntos, uns quinze anos, vivemos momentos inesquecíveis, tudo escondidinho para o feitor não se engraçar e querer receber o seu preço para deixar que nos amássemos.

O preço do feitor, era dormir com a mulher dos negos quando lhe aprouvesse, só assim, dava paz. Mas nós fomos espertos, conseguimos enganá-lo, por longo tempo, quando minha nega engravidou, ele coçava a barba,  quem seria o nego miserável que a possuíra.

Ele não gostava de deitar com nega que tivera filho, queria presa nova, presa cujo corpo não tinha estragado, desta forma, foi morrendo de raiva que me viu carregando meu rebento.

Bem foram anos felizes, nosso amor suavizava o sofrimento e tínhamos a sorte do sinhozinho não vender mais os filhos de escravos, estava receoso com as histórias da abolição, a Lei que proibia a entrada de escravos nos portos brasileiros, já havia sido assinada.
Eu queria liberdade, liberdade do que? Ah liberdade de escolher a minha vida, mas nem os brancos tinham esta liberdade. Havia outras correntes que eu precisava me libertar e por causa delas vim como escravo.

A corrente do orgulho era uma delas, a principal e mais forte, que em encarnações anteriores sempre me levavam a cometer grandes injustiças. Precisava aprender a dar valor ao meu povo, não importa qual fosse, branco ou negro, eu nunca dei o devido valor aos povos ao qual pertenci, poderia ter ajudado muito em outras vidas, mas pensei primeiro em mim. Por fim, dar valor a um verdadeiro amor, pois certa vez usei as mulheres como objetos, não dei valor nem a quem amava.

Pois é, estas eram as correntes reais que me prendiam, que mantinham meu espírito preso em um estágio atrasado de evolução, era destas correntes que eu deveria me libertar.

Ah filhos meus, tantos anos passaram, vejo irmãos negros encarnados agora como homens brancos acorrentados ainda nas mesmas correntes, a encarnação como negro escravo de quase nada valeu, ganharam certa humildade na época, mas depois ao voltarem à Terra, não alicerçaram esta humildade, permitiram que a agonizante raiz do orgulho ganhasse vida novamente. Lutam pelo poder, pela ganância, alguns até cultivam o preconceito da cor, esquecidos que estão do seu passado em outra vida.

É meus irmãos, hoje neste país que tanto amo, todos são livres, podem ir e vir, podem escolher sua conduta de vida, e eu aqui da espiritualidade, ainda os vejo acorrentados em suas correntes invisíveis, aprisionados pelo seu interior deturpado.

Ninguém é realmente livre nesta Terra, se alguém age como se fosse, esteja certo que ele é um prisioneiro da poderosa corrente do egoísmo, o amor fraterno ainda não o invadiu, o seu coração ainda é árido.
Você acredita realmente que alguém pode ser livre nesta terra em que vivem?

Todos tem obrigação com os irmãos que fazem parte do mundo em que vivem e mais cedo ou mais tarde serão cobrados pela falsa ilusão de liberdade que cultivam.


Fiquem na paz de Oxalá,
abençoados por Nosso Senhor Jesus Cristo.


Ditado por Pai Tomé de Aruanda,
psicografado por Luconi
em 14-05-2012